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Sepultura eleva o heavy metal a um novo patamar

Sepultura
Data: 02/07/2017

Pessoas vendo a vida passar por uma tela de computador ou de um aparelho celular. Um atleta cortando a própria perna para implantar uma prótese e assim competir com outro, amputado. Redes sociais que trazem mais discórdia do que aproximação. Uma máquina dizendo para o motorista de um veículo o caminho a ser seguido. Os robôs que no passado se imaginava em forma de ser humano aparecem no dia-a-dia em outro formato, em um futuro que já chegou. Temas como esses integram o novo álbum do Sepultura, “Machine Messiah”, o 14º da carreira da banda, que será lançado – não por acaso – na próxima sexta-feira, 13.

 

A temática, contudo, em um disco que não chega a ser exatamente conceitual, como outros do passado recente, não é o que chama mais a atenção. Porque o grupo também foi atrás de uma sonoridade atual, contemporânea, coisa difícil de conseguir em um meio fechado como o do heavy metal, mesmo para uma banda acostumada a romper barreiras, e que, como já esteve no topo do segmento, sofre com recorrentes comparações com o passado, de tudo o que é lado. E que encontrou no produtor Jens Bogren (Opeth, Amon AmarthSoilwork) o impulso necessário para fazer fluir o ótimo momento criativo da atual formação, que chega ao segundo disco, ao que parece, na ponta dos cascos.

É uma orquestra de violinos aqui, um teclado rebuscado acolá, naipe de metais e a atualização da percussão pelo incrível baterista Eloy Casagrande. Evoluções de guitarra e solos realmente inspirados de Andreas Kisser e a pegada groove que virou o mundo do metal ao avesso há tempos, do discreto, mas eficiente Paulo Jr. Inesperadas variações de Derrick Green, mostrando-se mais cantor do que nunca, com vocais limpos e tudo, além dos arames farpados cuspidos com raiva que são indispensáveis ao som de bandas do gênero. É o que faz de “Machine Messiah” o álbum que tem tudo para proporcionar a retomada da ponta de lança do metal pelo Sepultura, deixada depois de “Roots” e da traumática mudança da formação.

Tudo isso foi explicado em detalhes, de modo bastante elucidativo, por Andreas Kisser, o cara por trás do Sepultura nos últimos 20 anos. Em uma entrevista exclusiva, feita pelo telefone, ele fala do processo de criação e composição de “Machine Messiah”; de como os produtores Ross Robinson e Jens Bogren contribuíram para a ótima fase da formação atual; das questões de fundo que envolvem o entorno de uma banda, incluindo gravadoras e empresários; dos últimos projetos que consolidaram o atual momento, que ele reputa como “fantástico”; e dessa história de robotização que inspirou o novo trabalho. Respire fundo, fique em frente à telinha só mais um pouquinho e divirta-se:

Rock em Geral: Esse disco tem como conceito uma crítica às pessoas que estão muito dependentes dos avanços tecnológicos. É só na música “Phantom Self”, cujo clipe mostra bem isso (assista aqui) ou aparece em todo o álbum?

Andreas Kisser: É uma crítica geral, o “Machine Messiah” tem essa pegada. Não é um disco conceitual, vamos dizer assim, como fizemos no “Dante” (“Dante XXI”, de 2006) ou no “A-Lex” (2009), mas o conceito dessa coisa da tecnologia, do jeito que a gente vê hoje. Não é de uma ficção científica futurista, é mais sobre aquilo que vemos hoje, no mundo real, essa participação dos robôs, através dos smartphones, computadores, GPS. Você vê a galera indo ao show e filmando mais do que curtindo ou participando.

REG: Incomoda o pessoal filmar direto o show de vocês ou você nem repara tanto?

Andreas: Para nós, não, acho que quem perde com isso é quem tá filmando. Não é uma coisa que incomoda, que vai tirar o meu foco, mas é uma realidade: cada vez mais as pessoas estão vendo o mundo através da telinha, em vez de realmente olhar. Porra, até pra pegar mulher tem aqueles aplicativos (risos), a galera tá perdendo a condição humana de olhar um para o outro, de trocar uma ideia, de conversar olhando um para a cara do outro, em vez de só no whatsapp, digitando, enfim… Isso foi a maior inspiração, o presente, o que a gente vê hoje. Nós viajamos para tudo quanto é parte do mundo, são 76 países até hoje que nós já visitamos, e há países que não são tão dependentes da tecnologia.

REG: Você acha que essas diferenças são em função do nível de desenvolvimento da cada país?

Andreas: Acho que sim. Nós fomos para Cuba, por exemplo, em 2009, tem um tempo já, mas você vê a diferença de interação com as pessoas que não tinham celular. Não podiam ter celular, na verdade. Um país como a Armênia, como a Geórgia… Na Armênia tá todo mundo comendo comida orgânica, uma alimentação balanceada, é um país lindo, turístico, um povo fantástico. Isso já há tempos, e o mundo inteiro agora querendo ir para o orgânico. Então você coloca em perspectiva se realmente os robôs estão aí para ajudar a gente a desenvolver o nosso intelecto, o nosso cérebro, para ter conexão melhor com a natureza, com energias e frequências que estão aí no universo, que nós não podemos explicar, em vez de deixar os robôs ficarem fazendo as coisas pra gente. Olha, você vai por aqui, vira à direita, vira à esquerda. Ou você vai comer isso ou aquilo. Você não sai de casa pra fazer nada! E mesmo quando está em casa, a família tá lá, cada um com seu telefoninho. É um lance de ver onde está o equilíbrio, se existe, e onde que os robôs podem realmente nos ajudar a nos desenvolver como seres humanos. E não só receber informação e agir de acordo com ela. Você tem a capacidade de questionar, de dizer não, de perguntar os porquês das coisas, não só receber a informação mastigada na cabeça e agir de acordo com isso sem saber por quê.

REG: Então você acha que esse cenário é reversível, tem como voltar…

Andreas: Não é questão de ser reversível, é de ter um equilíbrio. Os robôs estão aí, isso é um fato, não tem como, faz parte da sociedade. O lance é não se deixar escravizar por isso, de se acomodar, de ficar naquela zona do conforto, de achar que as coisas estão evoluindo e na verdade parece que não. Você vê que a intolerância está talvez no seu maior nível na história, o que é muito perigoso. As pessoas ou estão de um lado ou estão de outro. Não só na política, no futebol, em tudo o que lugar tá assim. Então que interação é essa que o twitter, que o facebook propõe, que deixa todo mundo mais longe e mais intolerante com cada um? Temos que dar uma pensada e ver o que realmente tá mudando e o que tá atrapalhando. E no disco nós tentamos falar sobre diferentes aspectos da sociedade. Por exemplo, a música “Resistant Parasites” é sobre a genética de uma semente modificada em laboratório, o que estamos comendo, o que eles estão mudando nas sementes, nas frutas, nos vegetais, nos animais. Vacinas que as crianças tomam muito cedo e um monte de coisa que a gente não sabe da onde vem e vai confiando. A “Iceberg Dances” é uma música instrumental, mas a gente toca no lance do aquecimento global. A “Phantom Self” é realmente dessa coisa dos smartphones, dos computadores, o cara querendo cortar a perna para ser mais rápido que o outro, ter uma perna mecânica. O que realmente estamos querendo alcançar? Outra que eu poderia falar é “Alethea”, que é sobre a política mundial, Donald Trump, João Dória, o impeachment da Dilma, operação lava-jato, sobre tudo isso que estamos vendo. Ataques terroristas em Paris e Bruxelas, enfim, as coisas assim meio fora de controle. Na verdade a ideia seria unir as pessoas através da informação, mas na internet hoje em dia talvez 50% das coisas seja mentira, é preciso realmente pesquisar.

REG: Tanto que estão chamando isso de pós-verdade…

Andreas: Pois é, como jornalista que você é, você sabe que tem que ter suas fontes, checar suas fontes, e esse trabalho é humano, não é um robô que vai dizer o que é verdade e o que é mentira.

REG: Ainda não tem robô que checa, né?

Andreas: Ainda não… (risos)

REG: Mas do ponto de vista da sonoridade/musicalidade o disco é bem diferente das coisas que o Sepultura já fez. Como vocês chegaram a esse resultado, agora com o Jens Bogren como produtor?

Andreas: Sem dúvida, e essa foi a nossa intenção realmente, nós quisemos explorar a nossa musicalidade, sabe? A nossa performance como músicos, como guitarrista, como baterista, como vocalista, como baixista. Nós nos preparamos muito e quisemos escrever músicas que tivessem uma característica forte em cada uma, para realmente moldar um álbum. Nossa intenção foi fazer um disco pra vinil, é muito legal ver o vinil de volta, esse é um aspecto humano, meio fora dessa “evolução” robótica. O vinil voltou com força e nós escrevemos pensando naquele modo old school, em qual vai ser a primeira música, qual música deve fechar o lado A. Escrevemos uma música especificamente para o lado B, que é a “Sworn Oath”, que tem aquela coisa mais épica, com uma parte instrumental grande, solo de guitarra e aquele final épico de final de show. Enfim, isso nos ajudou muito a construir esse conceito de álbum e deu uma característica forte para cada música, para que realmente fosse uma viagem, que estamos contando uma história do que vemos hoje. E é legal porque as pessoas podem se relacionar com essa ideia porque é uma coisa atual, não fala de passado nem é uma visão futurística. Acho que as pessoas podem se posicionar, os fãs terem uma ideia mais real das coisas que estão acontecendo e curtir e entender um pouco mais do que estamos falando no disco. Nós nos preparamos muito, eu realmente preparei coisas nas minhas partes de guitarra, os solos. O Jens Bogren veio com sugestão de colocar os violinos da Tunísia, e aí a gente lá com aquela introdução de maracatu. É fantástico colocar Tunísia e Pernambuco juntos numa faixa.

'Arise'? A arte da capa do álbum 'Machine Messiah'

'Arise'? A arte da capa do álbum 'Machine Messiah'

REG: Ainda mais se o resultado for bom…

 

Andreas: Melhor ainda…

REG: Qual é a participação do produtor nisso? Ele também ajudou a chegar nessa sonoridade? No disco anterior (“The Mediator Between Head and Hands Must Be the Heart”, de 2013), vocês contaram com o Ross Robinson (produtor de “Roots”), o que dava a impressão da busca de uma sonoridade perdida, e agora não, parece uma coisa mais atual.

Andreas: Eu não digo perdida, acho que com o Ross foi uma oportunidade de trabalhar com ele. Eu amo o Ross, ele é um grande amigo, eu realmente vejo o estilo de trabalho dele como fantástico. Eu acho que a consequência do que nós estamos fazendo aqui no “Machine Messiah” tem muito a ver com o Ross Robinson e com o que nós fizemos no “Mediator…” também. O Ross trabalha muito essa coisa da performance, da alma da música. Nós conversamos muito sobre o sentido da letra, aonde que queremos chegar, o que queremos passar, é uma coisa muito orgânica, muito filosófica, na verdade. E principalmente com o vocalista, com o Derrick. Você pode perguntar para qualquer vocalista que trabalhou com o Ross, que realmente é um vocalista antes e outro depois de trabalhar com ele. Corey Taylor (Slipknot), Max Cavalera, Mike Patton (Faith No More), toda essa galera que passou por ele, o Robb Flynn, do Machine Head. Você fala com todo mundo e você vê que são processos de aprendizado que se leva para a vida inteira, desde o “Roots”, que a gente trabalhou com ele e foi um trabalho fantástico, até essa oportunidade de trabalhar com ele de novo no “Mediator…”. Acho que nos chegamos com o Jens com essa proposta. Trabalhamos as demos aqui em São Paulo, toda a composição e tudo, mas o produtor tem essa função de chegar e realmente levar o projeto mais pra cima. Achar a sonoridade certa, dar sugestões como a do violino, que o Jens deu, e ter aquela energia. Ele é o quinto membro da banda no estúdio, tem total liberdade de falar o que ele quiser, de tentar mudar as coisas aqui e ali. Temos que fazer isso juntos, não é uma ditadura, nem da banda e nem do produtor. Nós realmente estamos fazendo uma coisa juntos desde o primeiro encontro, quando estivemos lá pra discutir a possibilidade de trabalho juntos, foi uma química que aconteceu logo de início. Então foi muito motivador, muito prazeroso, nós curtimos pra caramba, apesar de ter sido uma gravação difícil, porque é um disco mais elaborado, mais trabalhado, mais musical. Então nós nos preparamos física e mentalmente para fazer isso e ao mesmo tempo curtimos muito a gravação.

REG: Impressiona como o Derrick tá cantando no disco, com o vocal limpo, sem ser aquela forma rasgada. Foi trabalhoso chegar a esse ponto?

Andreas: O Derrick é um músico fantástico, um vocalista que tem muitas possibilidades, tem um coração gigantesco e realmente ele fez o melhor trabalho dele. Nós falamos muito do processo de composição, sobre nomes de música. Nós trocamos muitos links de documentários, livros, e ele escreveu realmente o seu melhor trabalho em relação às letras. O Jens ajudou muito a procurar a palavra certa, a expressão certa, o jeito de falar as coisas. E foi um processo no qual o Ross deu aquela chacoalhada em todo mundo e que ajudou todos nesses três anos em que a gente estava na estrada, desde 2013, quando o “Mediator…” saiu. Fizemos show com o Steve Vai, no Rock In Rio Las Vegas, fizemos a apresentação do Rock In Rio Las Vegas na Times Square, em Nova York, enfim, coisas que foram fantásticas e mantinham a gente sempre motivado para chegar ao momento de ir para a Suécia com a demo debaixo do braço e gravar o disco.

REG: O disco tem umas “mini percussões” escondidas nos arranjos. É coisa do produtor ou é o Eloy interferindo mais nas composições, já que esse é só o segundo disco que ele grava com o Sepultura?

Andreas: A percussão sempre tem espaço em um disco do Sepultura, não tem como negar, principalmente desde o “Chaos A.D.” (álbum de 1993), quando começamos a utilizar instrumentos percussivos, principalmente brasileiros…

REG: Dá pra lembrar do “Chaos A.D.” ao ouvir algumas músicas desse disco…

Andreas: É uma grande referência, sem dúvida, e aí junto com o Jens, já no estúdio, junto com o Eloy também, com os instrumentos que a gente tinha ali de percussão, fomos fazendo testes do que funcionava aqui e ali. E é um processo mais tranquilo porque nessa fase o disco está praticamente gravado, é mais no final da gravação e foi muito tranquilo. Nessa altura a introdução do maracatu já estava definida que seria daquela forma, as guitarras já estavam gravadas, os solos, os violinos, então você tem uma ideia geral da música para ver onde tem espaço para funcionar certas percussões.

REG: Você falou em guitarras. Apesar de o disco não ter músicas tão velozes na maior parte do tempo, as partes de guitarras estão bem agressivas, você parece estar em um momento criativo especial…

Andreas: Eu também acho, sem dúvida. Realmente acho que estou no meu melhor momento, acho que a banda está em um momento fantástico, temos uma boa estrutura de empresário e de gravadora, a Nuclear Blast fora do Brasil e a Sony na América Latina. Estamos muito felizes da oportunidade de trabalhar com eles. E toda essa turnê que fizemos, todos esses eventos foi o que nos inspirou a fazer um disco como esse. E o Eloy Casagrande também, que a gente tem que mencionar sempre. Ele é um monstro da música, um baterista fora de série, talvez o melhor do mundo em atividade. Ele realmente dá possibilidades novas, toca qualquer coisa, toca com o coração, com muita técnica, muita vontade e isso passa motivação, energia e espaço para criar coisas novas. Então a gente meio que se desafia, ele escreve umas coisas na batera, manda uns loops pra mim, aí ei escrevo outras coisas doidas pra ele e depois a gente vê se consegue fazer isso ou aquilo, é um exercício saudável que só ajuda a explorar territórios em que a gente não foi ainda. Que é o interessante de lançar um disco novo, o nome “novo” já diz isso, é pra apresentar coisa realmente nova, não uma reciclagem do que já foi feito há algum tempo.

REG: A gravação dos violinos foi feita no estúdio junto com vocês ou eles mandaram pronto?

Andreas: A sugestão foi feita pelo Jens, na época das gravações das baterias. Nós passávamos música por música, via todos os detalhes, o que ia mudar e o que não ia, e ele veio com a ideia, porque ele já trabalhou com esses mesmos violinos da Tunísia em um disco do Moonspell. Aí o maestro lá fez uns rascunhos com teclado e com esses rascunhos eu gravei as minhas partes de guitarra e depois o maestro foi para a Tunísia, gravou os violinos e mandou pro Jens colocar tudo junto na mixagem. Eu curti pra caramba, foi uma coisa inesperada que trouxe outra alma para o disco. Esse é o trabalho do produtor, captar essa energia e ver onde ele pode melhorar e fazer as coisas serem mais impactantes.

REG: A “Sworn Oath” também tem adições de teclados…

Andreas: Isso, tem violinos, alguns teclados e um quinteto de sopros de orquestra, que foi feito pelo Renato Zanuto, um amigo meu aqui do Brasil, que já tinha escrito a introdução de “The Vatican”, do nosso último disco, e também trabalhou comigo no meu disco solo. Ele também fez o (órgão) Hammond na música instrumental, “Iceberg Dances”.

REG: Essa instrumental lembra as instrumentais porradas do Iron Maiden do começo de carreira, só que mais trabalhada…

Andreas: Boa, boa! É a tradição. Uma das primeiras músicas que eu escrevi com o Sepultura quando eu entrei na banda, quando estávamos fazendo o “Schizophrenia” (disco de 1987), foi a “Inquisition Symphony”, que é uma instrumental maluca, que até o Apocaliptica fez uma versão fantástica com violoncelos, e essa é a tradição do heavy metal. Tem o Iron Maiden, como você falou, o Metallica, o próprio Rush, que tem a “YYZ”, que é uma música icônica, e nós quisemos fazer isso mesmo. Eu quis fazer uma instrumental nessa pegada, e principalmente com o violão clássico, que eu toco há muito tempo, sempre em introduções ou em alguma coisa acústica, mas eu quis integrar o violão clássico com a banda, com todo mundo tocando. Instrumental faz parte da história do heavy metal. Muita gente vê o metal como barulho, “liga no 11 e sai tocando”, mas não é bem assim. E a instrumental mostra historicamente que o heavy metal tem músicos fantásticos que se dedicam, estudam o instrumento, ensaiam… Com a gente não é diferente.

Andreas Kisser solando com vontade durante o show do festival Hell In Rio, em novembro de 2016

Andreas Kisser solando com vontade durante o show do festival Hell In Rio, em novembro de 2016

REG: Falando da arte da capa, que é da artista filipina Camille Della Rosa, parece que a arte já existia e você encontrou, meio que uma coincidência. É uma arte bem diferente das outras das capas dos discos do Sepultura…

 

Andreas: Exatamente, e era o que eu estava buscando. Na verdade eu já tinha o nome “Machine Messiah” bem no começo, quando começamos a desenvolver as demos, os primeiros ensaios para desenvolver as primeiras ideias. Eu já tinha passado para a banda mais ou menos o que eu tinha em mente, todo mundo comprou a ideia, curtiu pra caralho essa coisa dos robôs, do nome. E aí eu fui para a internet fazer uma pesquisa, queria achar um artista novo. Nós conhecemos tanto artista do mundo do metal que fazem grandes trabalhos, inclusive aqui no Brasil, o Marcelo (Vasco, que já fez capa para disco do Slayer, entre outros), mas eu queria alguma coisa nova, com esse conceito na cabeça. Às vezes, as coisas estão ali esperando para a gente achar, e eu achei essa pintura, que chama “Deus Ex-Machina”, é o conceito do “god machina”, o deus máquina, dos extra-terrestres colocados por aqui como se fossem um ciborgue, em um retorno ao ciclo das máquinas. E tava lá, foi feito em 2010. Eu entrei em contato com ela, que foi super humilde, falamos no telefone, ela fala pouco inglês, mas conseguimos nos comunicar. Ela ficou super feliz de fazer parte disso, e tem uma coisa que muita gente ligou com o “Arise” (álbum de 1991)…

REG: Sim, aquelas garras de caranguejo ali em cima são bem parecidas, o formato do desenho também…

Andreas: Eu acabei nem perguntando para ela se ela teve essa intenção ou foi uma coincidência, mas não importa, independente se foi ou não, tem essa conexão com a história toda. Eu até vi, mas não conectei as ideias, nem comentei com ela, a arte já estava ali, o desenho, o conceito estava ali. É muito colorido realmente, porque acho que representa um pouco do que o disco é, com cada faixa muito diferente uma da outra. Tem sonoridades diferentes, o Derrick cantando gutural, mais melódico, eu usando guitarras mais pesadas, violão clássico, violino. Por exemplo, a capa do “Mediator…” representa muito bem o que o disco é, porque é mais dark, mais cinza, mais barulhento. E a achamos a capa cedo também, então ela teve um pouco de influência nas nossas composições.

REG: Esse é o terceiro disco lançado pela Nuclear Blast, isso deu um gás na carreira de vocês? E aqui no Brasil sai pela Sony, né?

Andreas: Acertamos com a Sony latina, incluindo o Brasil, são 14 ou 15 países da América Latina, e no mundo é com a Nuclear Blast. No Japão estamos com a gravadora Ward, que é exclusivo lá. É fantástico, a Nuclear é uma gravadora especializada em metal que respeita o Sepultura, a história e o presente, principalmente. É uma galera que não se rendeu para as gravadoras grandes, como aconteceu com tantas gravadoras que não conseguiram segurar, incluindo a SPV e a Roadrunner (que já lançaram discos do Sepultura). A SPV faliu e a Roadrunner foi comprada pela Warner, mudou todo mundo. Mas a Nuclear Blast, não, ainda tem o mesmo presidente, o Markus Staiger, um fanático do metal e do punk que assina com as bandas que ele curte e luta por elas. Então estamos em uma casa perfeita, a maioria das grandes bandas do metal está na Nuclear Blast e nos sentimos muito bem lá. É realmente um fator motivador, ter uma equipe que vai batalhar pela sua música. Porque não basta ter um bom disco, do lado musical e artístico, é preciso uma estrutura para colocar o disco na praça. E hoje a competitividade é muito brutal, você tem tudo na internet, mas acho que estamos com uma estrutura muito bem feita, de empresários, gravadora, e o disco tá muito bem planejado. E tô ansioso pelo lançamento, nessa sexta-feira 13.

REG: A turnê começa pela Europa e só em fevereiro são 26 shows em 28 dias…

Andreas: É o mundo do metal, e essa turnê é com o Kreator. Pra gente isso é normal, todas as turnês são assim, principalmente na Europa e nos Estados Unidos. A gente entra no ônibus e vai de país em país, sem ter que ficar pegando avião toda hora. Isso maximiza possibilidades de turnê. Mas como vamos tocar antes do Kreator, não vamos fazer aquele show de uma hora e meia, uma hora e quarenta, completo, vai ser um pouco mais curto, o que facilita um pouco. Nós estamos prontos, realmente muito bem preparados para esse ciclo.

REG: Já estruturaram o show, quantas do disco novo vai ter…

Andreas: Já. Estamos formatando o repertório, fizemos alguns ensaios no final do ano, como fazer com os violinos, outras coisas que estamos fazendo juntos. Queremos tocar bastante coisa do disco novo, umas quatro ou cinco em um show de uma hora, acho que vai ser interessante. Principalmente porque a gente vem de uma turnê de 30 anos, tocamos coisa velha pra caralho, agora é o momento do Messias (risos).

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